Boa tarde, tudo bem? Infelizmente nesse fim de semana aqui em MG aconteceram VÁRIOS acidentes relacionados com a geotecnia e geologia. Pessoas próximas e amigos me procuram para tirar dúvidas sobre tais acontecimentos e eu adoro explicar com todo prazer e clareza.
Portanto, estou fazendo esse AMA para tirar quaisquer dúvidas sobre os vários acidentes que aconteceram nos últimos dias em MG. Podem perguntar o que quiserem (curiosidades, perguntas técnicas, meu ponto de vista e etc.) Sou nativo de MG e conheço todas as cidades litadas abaixo.
E qual a minha formação e experiência?
- Graduação em engenharia civil com ênfase em geotecnia;
- Pós graduação em geotecnia aplicada à mineração (barragens);
- Vários cursos na área;
- 4 anos de experiência.
Acidentes:
Tombamento de bloco de rocha em Capitólio/MG:
Transbordamento (galgamento) de um Dique da Mina Pau Branco em Nova Lima/MG:
Deslizamento de terra em Brumadinho/MG:
Deslizamento de terra em Ouro Preto/MG:
Queda de talude em Betim/MG:
Estarei respondendo as perguntas hoje à noite e amanhã.
Sempre que uma tragédia similar a esta ocorrida em Capitólio acontece, a maioria das pessoas (inclusive religiosos) se apressa em dizer (corretamente) que foi uma fatalidade, mas será que elas param pra pensar nas implicações desta conclusão?
Veja, o ano possui 12 meses e o dia, 24 horas, mas a pedra caiu justamente durante a alta temporada, quando o máximo de turistas estavam reunidos ao seu redor. Ou seja, havia pelo menos 8 meses, ou 16 horas, nos quais a pedra poderia ter caído sem maiores consequências.
Uma pessoa mais racional concluiria que a chance deste evento acontecer é maior durante a alta temporada devido às chuvas e ao alto movimento de embarcações lotadas, causando erosão e vibrações que contribuíram para o desprendimento do bloco de pedra.^([1])
Portanto, a não ser que essa pessoa seja uma psicopata e acredite que uma dezena de pessoas precisava morrer para que todas as outras aprendessem uma lição sobre prudência e responsabilidade, ela terá que admitir que acidentes de fato acontecem com base em probabilidade, sem necessidade de uma vontade divina que os justifiquem.
Sendo assim, no momento em que a religião parece ser mais forte é justamente quando ela revela sua maior fraqueza. Pois, após uma tragédia, as pessoas se agarram a dogmas pré-estabelecidos ao mesmo tempo em que sublimam a frágil lógica que os mantém.
Afinal, quem teria coragem de lembrar a um familiar das vítimas que aquelas mortes foram "um plano de Deus" ou que elas "fizeram por merecer"? Por outro lado, como poderiam admitir que tal deus "todo poderoso" e "sabedor de todas as coisas" permitiria a ocorrência de acidentes?
Enfim, aqui termina a minha reflexão. Se você que lê sobreviveu, ou conhece alguém que foi vítima de uma tragédia, eu quero dizer que o seu exemplo de perseverança basta para nos inspirar e desejo que você encontre conforto nessa ideia, sem a necessidade de intermediários imaginários.
Obrigado por ler até aqui!
[1] Assisti uma entrevista na qual uma geóloga diz que apenas a chuva foi fator determinante e que a movimentação de embarcações não seria suficiente para causar a queda. Ou seja, a probabilidade não era tão determinada quanto eu havia teorizado, mas ainda é bem estreita.
